Evangelho
de Mateus.18,21-35
O capítulo 18 do Evangelho segundo Mateus. Este “discurso” tem como ponto de
partida algumas “instruções” apresentadas por Marcos sobre a vida cristã (Mc
9,33-37.42-47), mas que Mateus ampliou de forma significativa.
Os
destinatários do discurso são os discípulos, mas na realidade Mateus pretende,
sobretudo, atingir os membros da comunidade cristã.
Por
detrás do texto, podemos entrever uma comunidade onde há tensões e conflitos.
O mandamento do perdão não é novo. Os religiosos de Israel ensinavam a
perdoar as ofensas e a não guardar rancor contra o irmão que tinha cometido
qualquer falha.
Os
“rabis” de Israel estavam de acordo em que a obrigação de perdoar existia
apenas em relação aos membros do Povo de Israel, os gentis, os inimigos estavam
excluídos dessa dinâmica do perdão e da misericórdia.
A
grande discussão girava, porém, à volta do número limite de vezes em que se
devia perdoar.
Pedro,
consulta Jesus acerca dos limites do perdão.
Jesus
responde que não só se deve perdoar sempre, mas de forma ilimitada, total,
absoluta (70x7). Deve-se perdoar sempre. A parábola apresenta-se em três cenários
ou cenas.
O primeiro cenário
(vs. 23-27)
- coloca-nos diante de uma cena da corte: um funcionário real, na hora de
prestar contas ao seu senhor (impostos recebidos e nunca entregues), revela-se
incapaz de saldar a sua dívida.
Neste
cenário, o que impressiona mais é o montante da dívida: dez mil talentos (um
talento equivalia a cerca de 36 Kg e podia ser em ouro ou em prata. Dez mil
talentos é, portanto, uma soma incalculável).
O
montante da dívida coloca em relevo a misericórdia infinita do senhor.
O segundo cenário
(vs. 28-30)
– O funcionário que experimentou a misericórdia do seu senhor se recusou, a
perdoar um alguém que lhe devia cem denários (um denário equivalia a 12 gramas
de prata e era o pagamento diário de um operário não especializado.
Quando
estes dois cenários são postos em paralelo, sobressaem, a diferença de atitudes
e de sentimentos entre o senhor (capaz de perdoar infinitamente) e o
funcionário do rei (incapaz de se converter à lógica do perdão, mesmo depois de
ter experimentado a alegria de ser perdoado).
O terceiro cenário
(v. 28-35):
Os outros companheiros do funcionário real, chocados com a sua ingratidão,
informaram o rei do sucedido; e o rei, escandalizado com o comportamento do
funcionário, castigou-o duramente.
A
parábola convida-nos a analisar as nossas atitudes e comportamentos face aos
irmãos que erram. Mostra como a nossa lógica está, tantas vezes, distante da
lógica de Deus.
Diante
de qualquer falha do irmão (por menos que ela seja), assumimos a pose de vítimas
magoadas e, muitas vezes, tomamos atitudes de desforra e de vingança que são o
sinal claro de que ainda não interiorizámos a lógica de Deus.
Finalmente,
a parábola sugere que existe uma relação entre o perdão de Deus e o perdão
humano. Segundo o Pai Nosso.
O
que Mateus revela que se o nosso coração não bater segundo a lógica do perdão,
não terá lugar para acolher a misericórdia, a bondade e o amor de Deus.
APLICAÇÃO – O texto base trata
da necessidade de perdoar sempre, e ilimitada. É uma exigência das mais
difíceis que Jesus nos faz.
Ele
deu testemunho, em gestos concretos, do amor, da bondade e da misericórdia do
Pai. Na cruz, ele morreu pedindo perdão para os seus algozes. O cristão é mais
que um seguidor de Jesus. É seguimento de Jesus
O
mundo considera que perdoar é próprio dos fracos, dos vencidos, dos que
desistem de impor a sua personalidade e a sua visão do mundo.
Deus
considera que perdoar é dos fortes. Dos que sabem que é importante estar disposto
a renunciar ao seu orgulho e autossuficiência para apostar num mundo novo,
marcado por relações novas e verdadeiras entre os homens.
O
que significa, realmente, perdoar?
O
perdão não pode ser confundido com passividade, com alienação, com conformismo,
com indiferença.
O
cristão não aceita o pecado e não se cala diante do que está errado; mas não
guarda rancor para com o irmão que falhou, nem permite que as falhas derrubem
as possibilidades de encontro, de comunhão, de diálogo, de partilha.
O
texto lido recorda-nos que quem vive a experiência do perdão de Deus,
envolve-se na lógica da misericórdia que tem, implicações na forma de abordar
os irmãos que falharam.
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